O Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Mato
Grosso do Sul (Sindjor-MS) vem por meio desta repudiar a agressão sofrida pela
jornalista Laiana Horing Nantes, no dia 19 de outubro, durante o exercício da
profissão.
Ela atua como assessora de imprensa do Sindicato
dos Profissionais da Educação de Campo Grande (ACP) e foi agredida enquanto
cobria a audiência pública realizada na Câmara de Vereadores para debater o
projeto “Escola Sem Partido”. A
jornalista foi agredida fisicamente e teve a câmera fotográfica avariada.
Boletim de ocorrência foi registrado na Polícia Civil.
A audiência foi promovida pelos deputados Mara
Caseiro (PSDB), Coronel David (PSC), Paulo Siufi (PMDB), Lídio Lopes (PEN) e
Maurício Picarelli (PSDB), autores do projeto. O evento contou com protestos por parte dos
profissionais da educação. A gestão considera que o projeto é uma forma de
censurar debates importantes no ambiente escolar.
O Sindjor-MS repudia qualquer tipo de agressão e
cobra providências da polícia para punir o autor, além de posicionamentos dos
deputados e vereadores, visto que a agressão ocorreu na Câmara de Vereadores em
evento organizado pela Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul. A atitude
configura um atentado ao direito do cidadão de registrar o que se passa em
espaço público, e, especialmente no caso da imprensa, configura um atentado ao
exercício profissional.
Em fevereiro deste ano, relatório divulgado pela
Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert) mostrou que o
total de casos de violência contra profissionais de imprensa registrados em
2016 foi 65,51% superior ao de 2015. O total de casos de violações à liberdade
de expressão no Brasil saltaram de 116 para 192 ocorrências, atingindo
diretamente a 261 trabalhadores e veículos de comunicação. Com 67 ocorrências –
contra 64 registradas em 2015 -, as genericamente chamadas “agressões” são as formas mais comuns de violência registrada contra jornalistas.
Veja o relato completo da jornalista publicado nas
redes sociais:
Hoje, eu fui agredida!
No exercício da minha profissão. Na minha
existência de mulher. Jornalista, há 8 anos trabalhando com comunicação
sindical e, principalmente, vendo e vivendo os tempos de ódio da nossa
contemporaneidade, confesso que sabia que cedo ou tarde isso aconteceria. Mas,
eu não estava preparada. Ninguém está! Nem jornalista, para se ver impedida de
fazer seu trabalho, menos ainda uma mulher está preparada para ser xingada,
atacada, agredida por um homem. Nobre senhor, coronel do exército brasileiro.
Um clássico cidadão de bem bravamente tentando calar terríveis professores e
professoras, doutrinadores(as), abusadores(as) de crianças (Contém toda a
ironia do mundo).
Esbravejando, ao lado de incautas senhoras, senhores e
jovens, por respeito à família. Quem estudou história sem a mordaça do Escola
sem Partido deve saber o resultado de discursos idênticos a esse lá pelos idos
de 1964.
Na hora, atordoada com a agressão, eu só sabia
gritar que tinha sido agredida, que ele havia quebrado meu equipamento. A
partir daí, tracei uma epopeia para conseguir identificar o cidadão e registrar
um boletim de ocorrência. Mas, o fiz. Por mim, por outras mulheres,
jornalistas, professoras, guerreiras.
Já presenciei, registrei, chorei diante de cenas de
violência contra trabalhadores, nas nossas capitais (Campo Grande e Brasília).
Também coube a mim, registrar o histórico de lutas dos educadores
campo-grandenses ao longo da maior greve de REME, em 2015. Naquela ocasião, em
nossa Câmara Municipal de Vereadores, minhas lentes captaram a covardia contra
professoras e professores que lutavam pelo respeito a sua profissão.
Hoje, mais uma vez, lá estávamos nós, na Casa de
Leis, os professores resistindo novamente, a mais uma investida contra seu
ofício. Agora, a onda da vez é desqualificar seu trabalho, tentando
amordaçá-los com projeto de lei Escola sem Partido.
Mais do que simplesmente relatar o ato de violência
contra mim, eu quero chamar a atenção das pessoas para os reais motivos que
estão por traz dessas propostas. Que lógica é essa? A começar por um projeto
que se chama Escola sem Partido, mas que é proposto por agentes políticos,
partidários, detentores de mandatos parlamentares. O professor não pode
apresentar seu conteúdo, promovendo o debate sobre política, discutindo
sexualidade, gênero, religião, a escola não pode ser o espaço do encontro com a
diferença? Mas, agredir mulheres pode? Incitar o machismo, o racismo, a
Lgbtfobia pode? Condescendência com a cultura do estrupo e o feminicídio pode?
Professores (as) contextualizarem o 8 de março, relatando a história do
movimento feminista, jamais!
Triste realidade. A dor do corpo, um bom banho
morno e um analgésico tiram. Minha velha companheira Nikon será reparada, Mas
esse pensamento não pode seguir, sob pena de vermos, em breve, professores
saírem algemados de suas salas de aulas por fazerem seu trabalho, livros serem
queimados por conterem alto teor histórico, censuras serem aplicadas às artes
(ops, e não é que já estamos vendo?!).
Por agora é isso... Amanhã estou de volta à batalha
(da comunicação e da educação). Encerro com algumas palavras que brotaram no
momento de dor. Obrigada. De nada.
Há gritos por todos os lados
Alguns vêm da alma
inspirados nas dores da opressão
Gritam também os que querem oprimir
Sem saber que bradam em desgraça própria
Meu grito, calado, se faz olhos e ouvidos
Registrar é meu ofício
Ali, na aflição dos dias tenebrosos
Observar o ódio é dor e dever
Mas o braço covarde me ataca em minha mais cara
face:
mulher, cale-se! Não veja! Não fale!
A luta de uma vida se vê afrontada na mais dura cor
Forte, ainda estou
Mas senti, hoje, a fragilidade típica do desvalor
O nó na garganta do desamparo
Como é fácil bater em mulher
Quão pouco se afligem com nossas dores
Ainda sigo
Não me calo
Choro de raiva
As lágrimas são meu alimento
Firme com as companheiras que dividem a condição
O gênero
A mulher
Laiana Horing Nantes
19/10/2017 17:45
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