Conteúdo faz parte das ações da entidade para o mês da Mulher
Em alusão ao Dia Internacional
da Mulher, celebrado em 8 de Março, o Sindicato dos
Jornalistas Profissionais de Mato Grosso do Sul (Sindjor-MS) separou
cinco orientações para a cobertura jornalística de crimes de violência contra a
mulher. A listagem faz parte das ações da entidade para marcar o mês das
mulheres.
As dicas foram selecionadas a
partir de publicações de entidades que atuam em prol da equidade de
gêneros: Agência Patrícia Galvão, ONU
Mulheres e Think Olga. O objetivo é levar aos jornalistas um melhor
entendimento do assunto, estimulando uma cobertura mais humanizada.
Apesar de estereótipos e a
culpabilização da mulher ainda estarem presentes nas manchetes, o trabalho
jornalístico nesta temática tem evoluído. É o que aponta a professora do Curso
de Jornalismo da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), Katarini
Miguel, que também integra a Comissão de Ética do Sindjor-MS. Segundo ela, esta
mudança é fruto de uma nova geração nas redações e de atualizações nas
universidades.
“Temos uma grande quantidade
de mulheres assumindo as redações, e pelas pesquisas, em geral vemos que
matérias assinadas por mulheres têm uma empatia maior para tratar o tema, com
mais contextualização e uso de termos adequados. Ainda não é o ideal, porque
essa formação humanitária é recente, até nos cursos de Jornalismo”, destaca.
Impactos da pandemia
Com a pandemia de Covid-19, a
imprensa tem relatado diariamente os diversos impactos sociais, políticos e
econômicos para a população. Quando se trata da situação das mulheres, é
necessária uma atenção maior. Com mais pessoas em casa por conta das medidas de
isolamento social, há relatos de que os casos de violência doméstica têm
aumentado.
A Gênero e Número – primeira
organização de mídia no Brasil orientada por dados para qualificar o debate
sobre equidade de gênero –, apontou em 2020 um crescimento de 36% nos dados da
chamada 180, enviados pelo Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos
Humanos. O único estado que apresentou redução no período foi Mato Grosso do
Sul (-7%).
Apesar da pandemia, a
violência contra a mulher é um problema antigo no Brasil. Considerando apenas
casos de feminicídio – o crime de homicídio por ser mulher –, o país é o quinto
em um ranking com 83 nações, conforme o Mapa da Violência de 2015. No mesmo
estudo, Mato Grosso do Sul ocupa a nona posição.
“A imprensa tem que fazer um
papel de explicar os casos, contextualizar, trazer fontes apropriadas e mostrar
como funciona o serviço de acolhimento: Os telefones que elas podem ligar, as redes
de mulheres que podem ajudá-las. Muitas estão em situação de violência e não
sabem o que fazer”, finaliza a professora do Curso de Jornalismo da UFMS,
Katarini Miguel.
Confira as orientações:
#1 Use o termo feminicídio: A Lei
nº 13.104 alterou o Código Penal para prever o crime de feminicídio como um
tipo de homicídio qualificado, e o incluiu no rol dos crimes hediondos. A
partir disso, os casos de violência doméstica e familiar, ou menosprezo e
discriminação contra a condição de mulher passam a ser vistos como
qualificadores do crime, passando a ter pena de 12 a 30 anos, enquanto os
homicídios simples têm pena de reclusão de 6 a 12 anos. Com a criação da lei,
as discussões sobre a proteção das mulheres cresceram.
#2 Aprofunde a cobertura: O
foco da imprensa nos crimes extremos tende a tirar a atenção do fato de que
esse desfecho fatal foi o resultado de um processo contínuo de violências que
foram se agravando. Por isso, sempre que possível, aprofunde a cobertura,
mostrando que muitos desses casos graves começaram anos atrás, com atitudes de
desrespeito, de violência psicológica e violência moral, que foram se
acumulando até chegar a um feminicídio, por exemplo.
#3 Dê visibilidade: O Mapa
da Violência 2015 mostra que as mulheres negras morrem mais do que as brancas
de forma violenta no Brasil. Mas, as mulheres negras frequentemente não têm o
mesmo espaço na imprensa ou sensibilização. Esta invisibilidade contribui para
que se ignore a maior vulnerabilidade dessas mulheres e não se busquem soluções
para a violência racial. Por isso, diversifique sua pauta: ouça diferentes fontes e utilize dados para fazer estes
recortes da realidade.
#4 Divulgue os serviços de
apoio às vítimas: A Central de Atendimento à Mulher – Ligue 180 é
o principal canal para denúncias e presta uma escuta qualificada às mulheres em
situação de violência. A ligação é gratuita e funciona 24 horas por dia, todos
os dias da semana. Existem também as Delegacias de Atendimento à Mulher (Deam),
e em alguns municípios, como Campo Grande, a Casa da Mulher Brasileira – espaço
com atendimento multidisciplinar e humanizado. Existem ainda outros serviços de
acolhimento e redes de mulheres. Divulgue, sempre que possível, informações de
apoio às vítimas.
#5 Busque conhecimento: Para
uma cobertura humanizada, é importante entender alguns conceitos, como
violência de gênero. Tanto os feminicídios quanto as ocorrências de violência
contra a mulher são crimes de gênero, e podem derivar da naturalização da
desigualdade entre os gêneros, que leva o agressor a se sentir no direito de
possuir, controlar e ‘disciplinar’ a mulher ou a ex-mulher, por exemplo. Por
isso, a busca por conhecimento é fundamental para uma cobertura mais complexa e
qualificada.
Deixamos como indicação, as
leituras utilizadas para fazer esta matéria:
DossiêFeminicídio: Qual é o papel da imprensa? – Agência Patrícia Galvão
Minimanualde Jornalismo Humanizado: Violência Contra a Mulher – Think Olga
Pacto de Mídia “Dê um passo pela igualdade de gênero” – ONU Mulheres
Nenhum comentário:
Postar um comentário