segunda-feira, 16 de dezembro de 2024

Código de Ética - Aumentar o fluxo de acesso das notícias não é salvo-conduto para sensacionalismo e morbidez

 Por Comissão de Ética do Sindjor-MS 

 
Nos últimos dias, a população sul-mato-grossense foi surpreendida pela triste notícia de que um motociclista morreu após ser atingido por uma carreta na rodovia BR-163, em Coxim, na região Norte do Estado. De acordo com as notícias veiculadas pela mídia regional, o grave acidente aconteceu na manhã de quinta-feira, 12 de dezembro, e a violência da colisão fez com que a vítima – um cidadão de 52 anos – não resistisse às múltiplas fraturas e morresse imediatamente no local. 
Para além da tragicidade intrínseca do ocorrido, que naturalmente levou à comoção de familiares, amigos e pessoas que conheciam a vítima ou mesmo dos sul-mato-grossenses, que diariamente transitam pela violenta BR-163, outro aspecto chamou a atenção da cobertura jornalística direcionada ao caso. Um veículo regional fez sua chamada para o acidente com destaque para o fato de que o coração do motociclista teria ficado “jogado na rodovia” após o acidente. 
Certamente, uma cena impactante. A referência mórbida causou repercussão imediata e gerou uma série de comentários críticos nas redes sociais, incluindo reclamações encaminhadas ao Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Mato Grosso do Sul (Sindjor-MS). 
Em suma, este tipo de abordagem entra em conflito com ao menos dois pontos do Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros, o inciso III do artigo sexto, que diz que é dever do jornalista “respeitar o direito à intimidade, à privacidade, à honra e à imagem do cidadão”, e o inciso II do artigo 11, que enfatiza que o jornalista não pode divulgar informações “de caráter mórbido, sensacionalista ou contrário aos valores humanos, especialmente em cobertura de crimes e acidentes”. 
Entretanto, uma leitura mais atenta da notícia revela outro ponto de atenção ainda maior que tem sido comum neste tipo de abordagem no jornalismo regional. Pode-se dizer que o conjunto do conteúdo, embora sucinto, possui natureza informativa. Isto é, a notícia em si apresenta uma descrição e dados do ocorrido, como local, horário, informações da vítima e as circunstâncias da colisão. O descompasso com o título, porém, é o que causa maior incômodo. 
É sabido que o jornalismo regional, cada vez mais focado em publicações online em sites e redes sociais, em sintonia com o que acontece ao redor mundo, tem utilizado técnicas de SEO (Search Engine Optimization – ou, numa tradução livre, “otimização para motores de busca”) para impulsionar seus conteúdos. Trata-se de uma tática utilizada por jornalistas para garantir que suas notícias sejam facilmente encontradas em ferramentas de busca, como o Google, o que passa pela criação de “títulos atraentes”. 
Embora constitua uma estratégia editorial legítima, a prática de SEO tem gerado novos dilemas éticos para a profissão. O foco nas métricas das redes sociais de forma a tentar fazer as notícias viralizarem e aumentar o fluxo de acesso dos sites não raramente desvia a lógica do interesse público, preceito fundamental do jornalismo, para o interesse do público-alvo. 
É preciso lembrar que as ferramentas tecnológicas contemporâneas podem contribuir significativamente para a melhora nas práticas de apuração, na construção de novas formas narrativas e na circulação da informação. Contudo, como destaca o Código de Ética dos Jornalistas, em seu artigo segundo, “a liberdade de imprensa, direito e pressuposto do exercício do jornalismo, implica compromisso com a responsabilidade social inerente à profissão”. Títulos chamativos para aumentar acessos, portanto, não constituem salvo-conduto para práticas de sensacionalismo e morbidez.


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