quinta-feira, 9 de março de 2023

Apoio e solidariedade do Sindjor-MS à família e amigos de Danilo Cezar de Jesus Santos

Em apoio e solidariedade à família de Danilo Cezar de Jesus Santos, o Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Mato Grosso do Sul (Sindjor/MS) divulga aos jornalistas a nota abaixo:

Nota à imprensa e sociedade civil*

A rede de apoio à família e amigos de Danilo Cezar de Jesus Santos, vítima de homicídio no domingo (5 de março), vem a público fazer um pedido aos profissionais de imprensa e à sociedade civil.

Diante dos inúmeros comentários maldosos a respeito de Danilo, acreditamos que não seja producente ou respeitoso, para com a memória da vítima, divulgar com destaque somente as falas do autor do crime, já que a própria investigação aponta contradições em seu depoimento. 

Neste sentido cabe o alerta para a não perpetuação da da violência, com a verificação correta dos fatos, o combate à fake news e o cuidado ao tratar a temática, já que afeta a todos o envolvidos que sofreram com a perda de um ente querido. Comentários maldosos em redes sociais e em grupos sociais de aplicativos como Instagram e WhatsApp, bem como matérias jornalísticas com destaque somente para a fala do agressor não agregam e trazem sofrimento às vítimas de violência, aos que convivem com estas pessoas e àqueles que perderam entes queridos.

Cabe lembrar que esta não é uma tentativa de impedir a inclusão de falas do autor do crime nas matérias jornalísticas, mas evitar que se possa dar respaldo a elas. É possível incluí-las com confrontamento, apontando o fato de haver contradições, de que a fala vem de um criminoso hediondo réu por homicídio triplamente qualificado, e de que é necessário evitar brechas à culpabilização da vítima.

É importante ressaltar que Danilo era um jovem dedicado e de trajetória exemplar, que veio da periferia e tinha o sonho de melhorar a vida de sua mãe, uma trabalhadora doméstica que se dedicou ao máximo à educação do filho. Aluno aplicado, Danilo conseguiu cursar mestrado com bolsa e pretendia seguir a carreira acadêmica com doutorado.

Além disso, a vítima também era uma pessoa extremamente solidária e acolhedora, que fazia da ajuda ao próximo sua missão de vida. Matérias e comentários públicos que questionem a recepção dada por Danilo a uma pessoa em situação de rua são insensíveis em relação ao modo como ele via o mundo, uma vez que suas convicções jamais permitiriam negar auxílio a quem o abordasse alegando precisar de ajuda.

Danilo tinha uma potência intelectual extraordinária. No mestrado em Antropologia Social, investigava o cotidiano de estudantes brasileiros/as de medicina na cidade de Pedro Juan Caballero (PY), na fronteira Paraguai-Brasil, além de ter sido pesquisador no grupo que formulou o dossiê para o registro de patrimônio imaterial nacional do Banho de São João em Corumbá e Ladário.

Como relatou seu orientador, Dr. Álvaro Banducci Jr., "sempre foi uma pessoa sensível e prestativa, além de humilde por comportamento e origem. Perde a Antropologia do MS, perdem os estudos fronteiriços, chora o São João".

Danilo sempre foi responsável com suas obrigações, dentro de casa, na universidade e nas tarefas que desempenhava. A professora Dra. Mara Aline Ribeiro reforça a competência e dedicação de Danilo. "Um aluno excelente, um bolsista do CNPq. Um cara comprometido, o histórico escolar dele comprova isso".

Danilo representa uma parte significativa e importante na vida daqueles que, com ele, compartilharam as experiências da vida vivida. Era sinônimo de gentileza, companheirismo e lealdade, com os amigos, com a família e com as suas causas. Ressaltamos o pedido de respeito a sua memória, responsabilidade e compromisso com os desdobramentos da opinião pública e das pessoas que estão na sociedade civil que perceberem tendências à desqualificação de uma vítima de violência. 

No mais, é importante lembrar que Danilo prezava a não violência, era veementemente contra o assédio. Magro, de estrutura frágil, tinha consciência da sua vulnerabilidade. Ele costumava se manifestar ativamente contra qualquer tipo de discriminação, crime de ódio e intolerância. Conhecido na comunidade pela sua gentileza com os menos favorecidos, era amado e principalmente respeitado por todos que o conheciam.

São inúmeros os relatos de pessoas que tiveram a vida impactada positivamente pelas atitudes dele. Era carinhoso com os animais e sempre que possível encontrava forma de resgatá-los. Era cuidadoso e respeitoso com a mãe, tendo as iniciais da mesma tatuado no pulso. Tinha o sonho de transformar a vida dela através da educação, caminho que escolheu por aptidão. Era questionador, astuto e levava a ciência a sério.

*A rede de apoio aos familiares de Danilo Cezar é formada voluntariamente por amigos, parentes, colegas e professores da vítima.

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