O Sindjor-MS (Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Mato Grosso do Sul), em parceria com a UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) e a ADUFMS (Associação dos Docentes da UFMS), apresenta o painel "Das ruas às redes: um bate-papo com as mulheres do Jornalismo sobre os desafios da formação e profissão para o Dia Internacional da Mulher".
O evento será no auditório do curso de Arquitetura, próximo à coordenação do Jornalismo, na UFMS, na quarta-feira, 8 de março, a partir das 18h30, e contará com a participação da jornalista gaúcha Vera Daisy Barcellos, pioneira na cobertura esportiva no Rio Grande do Sul e ex-presidenta do Sindjor-RS.
O evento integra a programação dos 40 anos do Sindjor/MS (Sindicato dos Jornalistas de MS), alusiva ao Dia Internacional da Mulher (8 de março).
Vera também é militante do Movimento Feminista de Mulheres Negras e faz parte da Rede Feminista de Saúde que, junto com a Fetems (Federação dos (das) Trabalhadores (as) em Educação de MS), apoia a programação especial do Sindjor-MS.
O painel também conta, ainda, com a parceria do curso de Jornalismo da UFMS e fará parte da recepção de calouros/as da universidade. Segundo a professora Katarini Miguel, a ideia é promover o encontro de gerações num momento importante para o fortalecimento do acesso à informação e do direito das mulheres em todas as áreas. "Vamos convidar todos que queiram participar do debate. A programação está sendo construída com muito respeito principalmente às profissionais que estão nas redações no dia a dia, com o intuito de envolvê-las e valorizar a profissão. A presença da Vera Daisy vai engrandecer esse momento", diz Katarini Miguel.
O objetivo do Sindjor/MS é promover uma atividade que conscientize toda a rede de comunicação sobre a importância da visibilidade das mulheres e mulheres negras. Segundo a pesquisadora, jornalista e membra da gestão do sindicato, Tainá Jara, Mato Grosso do Sul atualmente conta com 1,2 mil profissionais jornalistas e, conforme o censo realizado em 2017, mais da metade deles se declara do gênero feminino.
Segundo a vice-presidenta da Adufms, professora Mariúza Guimarães, o painel será um marco importante na luta pela igualdade de gênero. “A Adufms se sente honrada em participar da organização desse evento junto com o Sindjor-MS. Foi na UFMS o primeiro curso de Jornalismo do estado e, com a presença da jornalista Vera Daisy, uma mulher que tem uma história na comunicação e também no movimento feminista, com certeza esse evento vai ser um marco fundamental para o nosso curso de Jornalismo e para a juventude que hoje busca a profissão".
Pela associação também vai participar do painel a professora da UFMS na Faculdade de Educação, Tina Xavier. Ela pesquisa as áreas de gênero, sexualidade, violência contra crianças e direitos humanos. Desde o ano de 2010, Tina Xavier desenvolve projetos em escolas públicas municipais de Campo Grande e produz coletivamente filmes de animação com crianças da primeira etapa do Ensino Fundamental. É líder-coordenadora do GEPSEX (Grupo de Estudos e Pesquisas em Sexualidades, Educação e Gênero).
A construção de uma agenda especial para o 8 de março conta também com a participação das mulheres e apoiadores dos movimentos sociais. Para a presidenta da Fetems, Deumeires Morais, unir profissionais e acadêmicos dentro de um espaço educacional, como a UFMS, traduz o papel da Educação na construção de um país. "O 8 de março é momento para o nosso fortalecimento e como educadora é uma alegria podermos participar junto com as jornalistas desse momento", diz Deumeires Morais.
Experiência e consciência social
Em tempos de redes sociais e informações rápidas, o compromisso com a qualidade do Jornalismo, a defesa do diploma e do piso salarial têm sido discussão nacional da Fenaj (Federação Nacional dos Jornalistas). Garantir a valorização desde o início da carreira e unir acadêmicos e profissionais são pautas defendidas pelo Sindjor/MS. "Aproveitamos o desfile dos bloco carnavalesco As Depravadas, que há décadas reúnes os jornalistas do estado, para fazer o lançamento oficial das atividades de 40 anos do Sindjor-MS. Agora, no 8 de março, teremos o primeiro evento da nossa programação especial de aniversário, que está sendo construído pelas mulheres visando o enfrentamento ao machismo estrutural da nossa sociedade e, muitas vezes, na abordagem da imprensa. Mais novidades estão por vir ao longo de 2023", antecipa o presidente do Sindjor-MS, Walter Gonçalves.
Vera Daisy Barcellos
Graduada pela UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), a jornalista Vera Daisy tem uma larga trajetória nas lutas feministas e antirracistas. Nasceu em 7 de outubro de 1948, em Porto Alegre (RS). Filha de uma empregada doméstica, foi criada junto da família dos patrões, numa casa chefiada por um general. A ideia seria que ela crescesse e, com o passar do tempo, tomasse o lugar de sua mãe como doméstica, na mesma família. Quando ela tinha oito anos, seu irmão adotivo Adyr Cancello Faria pressionou a família para que ela entrasse na escola e aprendesse pelo menos a ler e escrever. Foi assim que nasceu a jornalista.
Vera Daisy é atuante em defesa da categoria e atualmente é consultora na área de comunicação e colaboradora da ONG (Organização Não Governamental) Sempre Mulher - Instituto de Pesquisa e Intervenção Racial, de Porto Alegre. A jornalista também é militante da ONG Maria Mulher – Organização das Mulheres Negras, entidade pioneira na luta pela defesa dos direitos das mulheres pretas no Rio Grande do Sul.
Sua mais recente produção é o livro "Os Lanceiros Negros na Guerra dos Farrapos (1835-1845), uma publicação do Centro de Articulação de Populações Marginalizadas, do Rio de Janeiro. É, ainda, coautora dos livros Negro em Preto e Branco - História Fotográfica da População Negra de Porto Alegre (Prêmio Açorianos/2005) e Colonos e Quilombolas – Memória fotográfica das colônias africanas de Porto Alegre (2010).
Em sua trajetória como jornalista, atuou em diferentes jornais de Porto Alegre e no interior gaúcho. Começou sua carreira no Jornal do Comércio, passou pelo Diário de Notícias e por 16 anos esteve no jornal Zero Hora, no qual foi pioneira, enquanto mulher negra, na cobertura esportiva, futebol de salão, hoje futsal, e carnavalesca.
Com o caderno especial "Erechim Mulher" conquistou o prêmio ARI de Reportagem de 1998, levando, pela primeira vez, este prêmio para um jornal do Interior - A Voz da Serra. Vera Daisy também foi fundadora e jornalista responsável da Revista Tição, um marco na imprensa alternativa gaúcha voltada para a questão étnico-racial na década de 1970.
Foi presidenta do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul, no triênio 2019-2022, ocasião em que foi a primeira mulher negra a alcançar a presidência em 80 anos da entidade. Atualmente integra o Conselho Fiscal do Sindjors e participa, como presidenta, da Comissão Nacional de Ética da Fenaj.
Vera Daisy é, também, uma das coordenadoras do Núcleo de Jornalistas Afro-brasileiro do Sindjors e atua no Núcleo de Mulheres Jornalistas pela Igualdade de Gênero da mesma entidade sindical. Fez parte também do Conselho Deliberativo da Fundação Cultural Piratini Televisão Educativa – TVE/RS; Conselho Deliberativo da Associação Riograndense de Imprensa (ARI), do Conselho Municipal de Políticas para o Povo Negro e do Conselho Estadual de Participação e Desenvolvimento da Comunidade Negra do RS - Codene.
Como militante do Movimento Feminista de Mulheres Negras, entre 2004 a 2006, foi assessora de imprensa de Maria Mulher-Organização de Mulheres Negras. De 2006 a 2011 foi assessora de imprensa da Rede Nacional Feminista de Saúde Direitos Sexuais e Direitos Reprodutivos. Vera também foi consultora de comunicação da Campanha Internacional Ponto Final na Violência contra Mulheres e Meninas e do UNFPA - Fundo de População das Nações Unidas - ONU-Brasil.
Além da militância no movimento feminista das mulheres negras e atuação na imprensa gaúcha, Vera Daisy é carnavalesca, campo em que foi jurada dos desfiles das escolas de samba, e, atualmente, coordena o grupo de samba Puro Asthral que há cinco anos ocupa a escadaria do Viaduto Otávio Rocha, mais conhecido como “Escadaria da Borges”. O evento está consagrado no centro de Porto Alegre e atrai além da população gaúcha, turistas de todo País e do exterior.
Texto: Jacqueline Bezerra Lopes, vice-presidenta do Sindjor/MS
Foto: Divulgação
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